Espero que algum dia você tenha a oportunidade de visitar esta ilha, de caminhar por suas florestas, de ver como é a vida dentro da cratera de um vulcão, de provar os incríveis queijos locais, de deixar-se encantar pela vida simples e bela que este lugar e as pessoas daqui estão determinadas a cultivar. Estamos em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, a maior de nove ilhas que compõem o arquipélago dos Açores (confere nesse post se estiver curioso sobre o que nos trouxe até aqui).

Entre chegar, ficar em isolamento por 14 dias e testar negativo em três testes de covid, acabamos demorando um pouco para ir além do portão que nos separa do mundo lá fora. Com o trabalho voluntário, ajustes na nova rotina, adaptação dos nossos projetos pessoais a essa nova dinâmica e o clima instável dos primeiros dias, não tivemos muitas oportunidades de sair e explorar. Mas nos poucos dias em que conseguimos, ficamos surpresos com a abundância desse lugar.

A paisagem é composta por pequenas montanhas verdes que parecem ter sido moldadas cuidadosamente por uma mão gigante, suas encostas são povoadas por vaquinhas malhadas, que passam os dias caminhando livremente, pastando e apreciando a vista para o mar - vacas felizes, dizem eles. O magnífico oceano Atlântico está sempre ali, águas cristalinas em tons de verde claro e azul turquesa, a banhar as escuras rochas vulcânicas - uma paleta de cores que é difícil de descrever e até mesmo de registrar. Um cenário que pode facilmente mudar para uma atmosfera que beira o apocalipse durante tempestades e dias extremamente ventosos. As ondas violentas transformam o que era verde e azul em uma massa de espuma branca, com ondas a quebrar nas rochas escuras como se não houvesse amanhã.

Um mix de vegetação brasileira e europeia é como humildemente descreveria as florestas dentro das crateras dos vulcões. Sim, é possível visitar, há cidades, lagos, lindos campos verdes (de pastagem e, claro, as vaquinhas também estão por lá) e áreas de preservação natural pelas quais pode-se caminhar e apreciar vistas espetaculares.

Ponta Delgada é a maior cidade e uma das capitais dos Açores. Mesmo assim, ainda há os padeiros que passam pelas casas todas as manhãs pendurando um saco de pão no trinco da porta, os leiteiros que trazem o leite fresco diretamente da fonte e muitos outros hábitos que eram uma tradição em pequenas cidades há algumas décadas atrás. (Por que mesmo paramos de fazer isso?) O fato de estarmos em uma quinta ( o equivalente a um sítio ou chácara no Brasil) a apenas 15 minutos do centro da cidade também influencia minha percepção de viver no campo, porém desfrutando de todo o conforto da vida urbana. No jardim, podemos colher a maioria dos vegetais e frutas que consumimos. A casa onde estamos hospedados possui 400 anos e reúne o melhor dos tempos passados - história, móveis antigos, salas enormes e lareiras - e o melhor dos tempos contemporâneos - eficiência energética e sustentabilidade. Mas a casa e a quinta merecem um novo post.